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quinta-feira, 20 de maio de 2010

Profissão: Sonhador

Texto: Por Aline Porfírio
Fotos: Divulgação


Você já teve medo de revelar ao mundo que sonha ser surfista, atriz, músico, dançarino? Pois é, muitos jovens com sonhos que parecem impossíveis, ou um tanto dispensáveis aos olhos de muitos, se tornam grandes nomes do cenário mundial. Alguns possuem o apoio dos pais, outros se agarram no otimismo e nas oportunidades do mercado diferenciado


Aos 18 anos, Michael Jackson se tornava um dos artistas mais bem pagos da indústria musical americana. Tão jovem, já arrancava gritos das fãs histéricas e elogios dos produtores e críticos musicais da década de 70, quando liderava o grupo formado pelos irmãos The Jacksons Five e se preparava para a carreira solo. Foi aos 17 anos que a modelo Kate Moss mudou o parâmetro de beleza para as capas de revistas, se tornando referência no mundo das passarelas. Com a mesma idade, Daniel Radcliffe, protagonista de Harry Potter, se tornou o adolescente mais rico da Inlgaterra. Histórias de pessoas que um dia foram comuns, imaginaram-se em determinadas posições sociais e traçaram uma perspectiva de sucesso que foi incentivada por muitos e criticada por milhares. Mas todas, enquanto jovens, um dia sonharam para realizar.

Felipe D’Angelo também tem 17 anos, e assim como um dia aconteceu com os que já conquistaram a fama, ele também sonha com ela. Ao ouvir os solos de guitarra de bandas como Iron Maiden, Edguy, Angra e outros ícones do rock n’ roll, Felipe se impolgou e começou a tocar o instrumento com apenas 11 anos. O que era hobbie logo virou paixão e projeto de profissão. Porém, com alguns excessos.

Não demorou muito para ele montar uma banda, a Steel Dragon, inspirada no filme Rockstar. “Eu levo a música muito a sério. Por isso ter banda é complicado, pecisa ter comprometimento”, diz. O sonho de se tornar um grande músico estava só começando. Ao todo, foram mais de dez formações musicais, algumas mais sucedidas, outras nem tanto.

Há dois anos, quando estava no primeiro ano do Ensino Médio, ele resolveu tomar uma decisão séria e um tanto questionável, interrompeu os estudos para se dedicar ao que gosta. Felipe já havia repetido de ano duas vezes, por fazer da guitarra seu único caderno. Neste ano ele decidiu fazer supletivo para concluir os estudos e poder cursar faculdade de música.“Meus pais me apoiaram, eu realmente gosto do que faço, preciso disso”.

“Claro que não vamos dar total razão para um adolescente que larga a escola. Mas eu sei que se num for assim, ele não vai ser feliz, e ser feliz é o que importa”, revela Silvana Gonçalves de Lima D’ Angelo, mãe de Felipe. Ela explica que compreende o sonho do filho e o apoia, para que mais tarde ele reconheça o empenho dos pais. Segundo a dona de casa, ele começou a tocar por iniciativa própria, pois rock não era prioridade na cada dos D’Angelo, o que reinava ali era mesmo sertanejo. “Eu sempre gostei de sertanejo, e de repente o Felipe começou a tovar guitarra. Por isso sei que é o que ele gosta, não é influência. Portanto, ele vai se dedicar cada vez mais, e vai fazer o que sempre sonhou”, diz.



Para ser realmente bom no que faz, ele procurou um dos ídolos. Atualmente faz aulas de guitarra com o Rafael Bitencourt, músico do Angra, uma das maiores bandas de heavvy metal brasileiro. A dedicação pela guitarra lhe rendeu trabalhos profissionais. Felipe dá aulas particulares de música e há cinco meses mantém uma banda cover de Crashdiet, grupo suéco representante do hard rock sleeze, típico dos anos 1980, cabelos descoloridos, encharcados de laquê, roupas apertadas e desfiadas, bandanas, e etc. A banda de Felipe é a Scarlet pain, formada por cinco integrantes que vão de 17 a 19 anos, todos com o sonho de que a música seja a única ocupação de suas vidas.

Recentemente, Felipe teve uma parte do sonho realizado. Na página oficial do Crashdiet na internet, o vídeo onde a banda dele toca um tributo ao grupo estava em destaque. “Quando vi a Scralet pain no site eu quase chorei. Meus ídolos postando o vídeo da minha banda na página deles é algo incrível e emocionante para mim, que me dedico tanto a isso”, relata sorridente.

Expectativa em cena – O palco é o seu melhor amigo e ao mesmo tempo o maior desafio. Evelyn Nataly Ribeiro Forgachi tem 19 e sonha em ser atriz. Ela mora em São Vicente e faz aulas de teatro em uma oficina cultural de Praia Grande. Inicou o curso aos 13 anos, e de lá pra cá, entre idas e vindas, não conseguiu mais abandonar os palcos. “Meu maior sonho é ser atriz de cinema ou televisão, sonho com isso desde pequenininha”, diz.

Evelyn largou recentemente o emprego de atendente em uma grande loja de shopping, pois não tinha muito tempo para as aulas culturais. Além do teatro, ela faz também cursos de dança. Agora está à procura de um serviço do qual possa trabalhar de segunda à sexta-feira, podendo assim se dedicar ao que realmente gosta. “Eu não posso contar muito com o apoio da família, até porque todos sabem que é muito difícil chegar até onde eu quero. Mas não penso em desistir, vou chegar lá, mesmo que eu já esteja velhinha”, diz a jovem emocionada.

Evelyn sonha em ser famosa, ter seu trabalho e gosto reconhecido. Situação parecida com a aspirante de modelo, Ana Carolina do Nascimento Wawzienkiewicz, também com 19 anos. Ela iniciou na passarela com 15, e com pouco tempo de carreira já acumula em seu currículo importantes experiências profissionais. Ana Carolina já participou de vários concursos de beleza pela Baixada Santista, comerciais e até participação em programas de auditório e na novela Malhação.



Evelyn (acima) e Ana Carolina (abaixo) sonham ser famosas



A jovem explica que viver da aparência não é tarefa tão fácil e nem tão recompensadora. “Às vezes se torna dificil, pois você tem que aprender a lidar com o tipo de ser humano meio que egoista. A concorrência é muito grande, mas podemos destacar pessoas boas e que conseguem seu lugar lá em cima com dignidade, sem precisar afetar ninguém”, explica. No ano passado, Ana Carolina foi eleita a Miss Peruíbe, o que para ela recompensou todo seu empenho e trabalho. Ela continua na luta, faz comerciais, fotos, desfila. Tudo em busca do seu lugar ao sol.

Traçando o sucesso -
Em vários casos, a família não apoia a iniciativa do jovem, por achar que esta ilusão logo desapareça ou comprometa a busca por um futuro tradicionalmente profissional. Porém, muitas dessas histórias acabam dando certo. “Basta um pouco de insistência e personalidade”, é o que diz Cadu Pelegrini, vocalista da banda Kiara Rocks. O músico teve o sonho de montar uma banda ainda menino, com 13 anos. Hoje com 30, ele começa a colher os frutos de seu trabalho.

“Prefiro ganhar bem menos e fazer o que gosto. Acredito que não podemos fazer várias coisas bem feitas ao mesmo tempo, então melhor se dedicar em uma só: a que gostamos”, explica. Cadu já teve por volta de nove bandas. A atual, Kiara, tem três anos. A banda não tem produtor ou empresário, é ele quem faz todo o trabalho de divulgação, site, criação de propagandas, agendamento de shows e etc.

Com o corpo cheio de tatuagens, cabelos compridos e um visual que se torna um tanto irreverente para alguns, ele sempre trabalhou com música. Sua única profissão fora dos palcos também esteve ligado ao rock n’ roll, ele foi assistente de tatuador por dois anos. O vocalista se declara autêntico no que faz, hoje ele diz perceber que não faria outra coisa se não cantar e tocar guitarra. “Faço o que gosto. Com o tempo ganhei amadurecimento e experiência. Não gosto de criar expectativa, mas estou num momento legal da carreira”, diz entusiasmado.

Após participar do programa Astros e do reallity show Solitários, ambos no SBT, a banda teve uma alavancada na carreira, ganhando espaço e admiradores por todo Brasil. Atualmente, o grupo tem shows marcados em São Paulo, Belo Horizonte, Manaus, Brasília, Recife e várias outras capitais brasileiras.


Profissões inusitadas -
Atento às iniciativas dos jovens atuais, o mercado de trabalho já se prepara oferecendo ferramentas para que os interessados desenvolvam suas habilidades preferidas. Em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, a Unisinos oferece faculdade de Produtor Musical especializado em bandas de Rock n’ Roll. O curso tem duração de dois anos e meio (1.660 horas-aula). No período, o aluno aprende disciplinas como História do Rock, Marketing, Direitos Autorais, Criação Musical, demontração e etc.

Já a Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, oferece graduação em Designer e Planejamento de Games. Com duração de quatro anos, o curso tem o objetivo de formar profissionais capazes de criar jogos em várias categorias, como estratégia, imersão, online e Role Playing Game (RPG).

E sonho não tem mesmo limite. Quem gosta de levar a vida sob as ondas pode fazer disso sua profissão. A Univali, em São José, Santa Catarina, oferece o curso Gestão de Negócios do Surf. As aulas tem duração de dois anos e meio, e constituem em disciplinas como história do surf, empreendedorismo, roteiro esportivo e muitas outras matérias que mesclam noções práticas e turismo com administração. Mais do que nunca, o mercado vem dando opções para a expansão das mais diversas áreas e escolhas. Tudo se torna só mais um exemplo de que gosto pode sim virar profissão.

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