Texto:Por Alexandre Alves
Fotos: Divulgação
A revista Profile enviou o repórter Alexandre Alves para mostrar o trabalho da Bola de Neve Church, que utiliza a música como instrumento de evangelização e tem seus cultos voltados especialmente ao público jovem. Entre um solo de guitarra e outro, o pastor consegue relatar palavras bíblicas de forma extrovertida, reunindo na Igreja jovens que procuram, além da paz interior, auxílio para problemas com álcool, drogas e transtornos emocionais
Domingo de manhã, culto em Igreja Evangélica e... rock n’ roll. Enquanto o pastor, com um visual bem mais à vontade que aquelas tradicionais gravatas, pregava palavras religiosas, os músicos, em alto e bom som, tocavam melodias de empolgar qualquer um. Eu, batizado em Igreja Católica, nunca participei de qualquer religião a não ser da de meus pais, mas imagino que nenhum outro lugar pode ser parecido com a Bola de Neve Church, como é chamada.
O clima despojado é totalmente diferente daquilo que eu vi anteriormente em outras igrejas, e do que imagino também que seja nas diversas que não fui. Praticamente todos de tênis ou sandálias, no caso de mulheres, alguns de bermuda e outros até de boné com a aba virada para trás. Desde pequeno, aprendi que homens não deveriam entrar em Igreja e nem fazer o sinal da cruz se estivessem com a cabeça coberta. É considerado desrespeito.
Sob o slogan “In Jesus, we trust”, que em inglês significa “Em Jesus, nós confiamos”, a Bola de Neve tem como diferencial a informalidade típica dos jovens, e a ausência de dogmas, tradições e outros costumes religiosos. Além disso, a Igreja procura sempre manter a sua imagem associada a esportes radicais e seus louvores são em ritmo de pop rock.
“É algo que começa pequeno, vai crescendo e se transforma em uma avalanche que envolve todos”. Essa é a explicação para o nome da Igreja, segundo o pastor Eric Vianna, e que traduz o sentimento de todos que fazem parte dela.
O que me chamou muita atenção também é o fato de ter uma prancha de surfe em pleno o altar, servindo de bancada para o pastor durante o culto. Pode-se dizer que ela é o símbolo da igreja, algo comparado talvez à cruz no catolicismo. “Isso começou de maneira totalmente involuntária. Nossa primeira reunião foi em um showroom de uma empresa de surf wear em São Paulo. Não tínhamos um lugar para encostar a Bíblia e havia uma prancha do lado. Acabamos pegando-a para isso e virou um emblema da Igreja”, diz Eric Vianna.
Em determinado momento do culto, o pastor sai do altar, que logo se transforma praticamente em um palco, dando total espaço aos músicos, e o clima de show de rock dominava toda a Igreja. A banda é composta de baterista, baixista, guitarrista e três que se alternavam nos vocais com o passar das músicas. São duas mulheres e um rapaz, que lembra muito o estilo de um vocalista de hardcore (ou seria um gospel/hardcore?).
As músicas, de fato, mexiam muito com os frequentadores. Alguns choravam com a energia das palavras e das melodias, outros vibravam com bastante intensidade e era possível ver até gente pulando junto com o ritmo das canções. “A maior expressão do coração de Deus é a música. Dizem que o rock é do diabo, mas na verdade ele não tem nada. É um instrumento de adoração a Deus”, explica Vianna.
O pastor lembra também da capacidade de recuperação que a Igreja pode ter. Ele diz que os jovens da Bola de Neve procuravam algo que preenchesse o vazio em que viviam. “Buscavam no mundo, nas drogas, no rock n’ roll... Mas foi em Jesus que eles encontraram isso”.
Um exemplo disso é Bruno Brito, de 23 anos, hoje universitário, estudante de Engenharia de Produção, na Universidade Santa Cecília. Ele conta que conheceu a Igreja depois que uma amiga viu seu estado depois de uma festa rave. “Estava no fundo do poço, até que essa menina me ajudou. Eu vivia em um mundo de mentiras cheio de ilusão. Hoje a Bola de Neve é minha família”, diz.
Já a pastora Sheila Vianna fala que sua vida antes de se converter à Igreja era muito difícil. “Eu tinha uma vida sentimental muito conturbada e familiar também. Minha família era bem desestabilizada e foi destruída por adultérios, separação dos meus pais...”. Ela diz ainda que antes tinha um trabalho, fazia faculdade, mas considerava que aquilo era uma vida vazia. “Hoje, Deus me deu um marido, uma filha e vejo, dentro dos valores do evangelho, o quão longe estava daquilo que Deus tem para gente”, completa.
No culto, a maioria dos frequentadores era composta por jovens, mas também foi possível ver um número bem razoável de pessoas de mais idade, e até, de cabelos brancos. “A Bola de Neve, inicialmente, era composta apenas por jovens, principalmente surfistas e outros esportistas. Só que esses jovens começaram a crescer, constituíram família, vieram os filhos e agora somos uma Igreja familiar”, diz Eric Vianna. Ele completa dizendo que os pais de jovens, antes problemáticos, querem saber o que acontece com os filhos que mudaram e, por isso, acabam entrando para Igreja.
Mas também há aqueles mais velhos que entram na Igreja por outros motivos, como é o caso de Luis Carlos Alves, de 52 anos. “Eu entrei para a Igreja porque não agüentava mais a situação que vivia”. Após 35 anos no mundo das drogas, ele conta que foi procurado pelo pastor, na época um dos membros da Bola de Neve. “Ele veio me oferecer um prato de comida e eu, embriagado, ‘fumado’, ‘cheirado’, xinguei”. Alves se recuperou das drogas após longo período de abstinência e internação, e ainda sobreviveu a um câncer. Hoje, ele trabalha para a Igreja e diz “o mais gostoso é estar nos braços do Papai”.
Ao final do culto, depois de muita música acompanhada de emoções e palavras como “Amém” e “Aleluia”, o pastor volta ao altar e lê trechos da Bíblia Sagrada. Agora em um ritmo bem diferente daquele durante o “show”, ele passa as mensagens religiosas de uma maneira mais conservadora do que anteriormente. De qualquer maneira, é notável o trabalho diferenciado que a Igreja Bola de Neve realiza não só para jovens, mas para todos aqueles que a procuram.
Serviço:
Em Santos, a Igreja Bola de Neve fica à Rua Padre Anchieta, 187. Os cultos acontecem aos domingos, às 10 e às 19 horas, e às quartas-feiras às 20 horas. Mais informações pelo telefone (13) 3224-4979.
Para saber mais sobre a Igreja, acesse o site(aqui).
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário