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quinta-feira, 20 de maio de 2010

A EMOVOLUÇÃO DO HOMEM

Arte e texto por Carina Seles



Todos sentados à mesa. Dia de glória, então. Depois de meses de tentativa, reuniram-se avôs e avós, mãe, pai, filho 1 e filho 2. Dá-lhe mesa! O almoço saborosíssimo. Contraria-se o avô:

– No meu tempo, a comida tinha mais sabor. Não tinha esses tóxxxicos (isso mesmo, ele falou tóxico, forçando o “x”).

Começa o burburinho.

A avó complementa:

– No meu tempo, meu sonho aos 16 anos era casar e ter muitos filhos.

Volta o burburinho.

O pai, doze anos mais velho que a mãe, quis dar voz à discussão:

– No meu tempo, o barato era legal. Era riponga, tuuudo paz e amor. Aos 16, fui para um retiro no interior. Até a Ângela Rô Rô estava lá. Foi bacana.

Alguém falou:

– Tava muito louco né velho? Aff, até parece... Rô Rô não sei do quê...

A mãe já curtiu outra época:

– Eu fui do Black Power! Aos 16, dançava muito! O legal era Jackson Five.

E volta o burburinho.

O filho de 30 anos se revolta:

– Quê é isso? Aos 16, o legal era gritar: “que país é esse”, “Ideologia” ... Renato Russo, Cazuza... a gente tentava consertar alguma coisa nesse país.

E volta o burburinho.

O Juninho, de 16, estava presente – de corpo presente. Só faltava a opinião dele, o filho 2. Todas as cabeças se voltaram para aquele menino de boné (que, aliás, os avós achavam um absurdo. Onde já se viu?), cabelo ensebado penteado de lado e piercing na boca. Cabisbaixo – estava muito ocupado com seu Ipod – o menino tirou o fone dos ouvidos e falou:

– O melhor dia da minha vida foi no show do Cine. E voltou com seu fone de ouvido.

O silêncio tomou conta da mesa. Os velhos “muxoxaram” com a boca, os pais penderam a cabeça de lado e o irmão saiu da mesa. O velho pensava “cinema? Que cinema?”, o pai “show no cinema?”.

Antes fosse.

A mãe percebeu logo, “se os ideais estão escasseando, o que vai ser do meu neto? Aonde eu errei?”. Aterrorizou-se à futura cabecinha que viria. O Juninho? Nem aí...

É... uma puta falta de sacanagem.*

* = Referente à frase da menina que não entrou no show da banda de pop rock brasileira “Restart”, semelhante à banda Cine, em entrevista para TV.

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