Fotos: Divulgação
“Tudo que ele deixou foi uma carta de amor pra uma apresentadora de programa infantil. Nela ele dizia que já não era criança, e que a esperança também dança como monstros de um filme japonês. Tudo que ele tinha era uma foto desbotada, recortada de revista especializada em vida de artista. Tudo que ele queria era encontrá-la um dia (todo suicida acredita na vida depois da morte). Tudo que ele tinha cabia no bolso da jaqueta. A vida quando acaba, cabe em qualquer lugar”. (Engenheiros do Hawaii)
Sábado, uma e trinta da tarde, no elevador panorâmico é possível assistir a movimentação do shopping daquele dia, as mãos ansiosas seguram o dispositivo que permitirá o registro do encontro. A chegada no último andar avisa que é hora de enfrentar os ternos pretos para conseguir atingir o objetivo da missão. Sem maiores complicações o alvo é avistado a poucos metros de distância, e nesse momento os rinocerontes que habitam o estômago estão mais agitados que nunca. A abordagem é um sucesso. E finalmente a recompensa: a foto com um Colírio da revista Capricho.
Se você tem menos de dezesseis anos não se preocupe por não estar entendendo nada, a explicação é simples. Essa é a história que Stephanie Pimentel, 15 anos, conta a todos os amigos nela relata a pequena invasão no Hotel Miramar para conseguir um contato mais próximo com Federico Devito e Dudu Surita, as novas sensações entre as garotas. Os rapazes, selecionados pela revista Capricho receberam o titulo de colírios em uma promoção.
Stephanie conseguiu foto com Colírio
“Quando saí do hotel, cerca de 200 meninas aguardavam para ver os Colírios. Mas eles tinham acabado de ir embora”, diz Stephanie. Depois do ocorrido, pela internet, algumas fãs mais exaltadas culparam a espiã brasileira por não conseguir uma aproximação com os rapazes, uma vez que ela “ocupou” o tempo deles.
Mas nem só de colírios vivem as fãs brasileiras, outro que vem roubando a atenção de milhares de meninas por todo mundo é o cantor americano Justin Bieber. Prova dessa paixão é a estudante Isabela Passos, 15 anos, que confessa ser viciada no astro pop. Ela conta que para se manter informada de tudo que acontece com o ídolo, passa horas na internet acompanhando sites, notícias, twitter. E que graças a todo esse empenho certa vez conseguiu um contato por meio de um possível endereço de e-mail do cantor.Sobre a possível vinda do Justin Bieber para se apresentar no Brasil, declara que a mãe já prometeu a compra dos ingressos. “Se ele vier, sou capaz de surtar”, diz.
Entre as loucuras cometidas em nome da paixão pelo ídolo afirma que até pensar em cometer um pequeno delito já passou por sua cabeça. “Certa vez quase roubei o cd do Justin Bieber, mas uma amiga me impediu”, diz a adolescente. Esse ato foi só por brincadeira, mas aumentar o som no último volume e cantar sem se importar com os vizinhos ela admite fazer sempre.
Quanto à formação da sua personalidade, Isabela generaliza os adolescentes e diz que o comportamento dos artistas na mídia pode sim, influenciar as decisões e causar reflexões sobre vários assuntos.
Eles estão mais perto – os ídolos são outros. Os conceitos mudaram. E o mundo está diferente. Mas a admiração quase que obsessiva de adolescentes em cima de artistas continua a mesma. Os gritos histéricos, choro incontrolável e a sensação da que aquela criatura é a perfeição em forma de ser humano caracterizam essa fase pela qual todo adolescente passa, na qual está se criando uma identidade e a procura do lugar em que pertence.
O termo inalcançável não pode mais ser empregado à maioria dos artistas atualmente. As facilidades das relações, via internet, fizeram com que os fãs consigam um contato mais próximo com os ídolos. O twitter é o exemplo mais simples dessa revolução tecnológica, através dele é possível se comunicar em tempo real com qualquer pessoa em todas as partes do mundo. Porém, essa proximidade pode também contribuir para que a “paixão” se torne cada vez mais forte. E quando essa luz amarela acende é necessário analisar se a “coisa de adolescente” não está se tornando fanatismo.
Segundo a psicóloga, Claudia Alonso, tudo em demasia não é saudável, a diferença é que o fanatismo age de forma que você à primeira vista não percebe. E apenas com o olhar atencioso de familiares e educadores uma situação assim pode ser detectada.
Quando passa a fase da infância em que os sonhos e fantasia caem por terra, o adolescente se vê bombardeado pela mídia que o “obriga” se vestir, comportar e aparentar de tal modo sob a pena de ser excluído pela “galera”. Fora isso, os valores de cada família, o ambiente escolar e a cultura local formam um grande caldeirão que confunde e desestabiliza o jovem.
O problema está na forma como a mídia vende ao público esses artistas mostrando apenas o lado bom. Dessa forma esses ídolos se tornam perfeitos. Isso, somado ao fato de que a adolescência é por si só uma fase muita confusa onde o jovem não sabe direto quem é e como deve se comportar, faz com que ele projete nesse ídolo um ideal a ser seguido e mais que isso, copiado.
Quando esse ideal não é alcançado – até mesmo porque são parâmetros inalcançáveis, sejam de beleza, status e mesmo financeiro – a frustração se faz presente. E é exatamente nesse ponto que a fixação exagerada fica perigosa. Os indícios podem ser diversos como depressão, alcoolismo, drogadição e até mesmo violência.
E para resolver essa situação três palavras são imprescindíveis: sensibilidade, disponibilidade e comprometimento. “As pessoas estão muitos solitárias. Virou démodé e careta ser afetivo”, diz a psicóloga. Somente com esse cuidado será possível fazer com que o adolescente enxergue o mundo real, e pare de usar a fantasia – refugio da infância – para se sentir aceito.
“Família e educadores são fundamentais para perceber esse comportamento e, juntos, de uma maneira saudável, mostrar que é legal ter ídolos, mas a vida é diferente”, afirma Claudia. O importante é que as pessoas em volta desse adolescente tentem conversar e escutar qual é o problema.
“Sou uma fã, mas sou controlada”
Em todos os aspectos da vida o equilíbrio se mostra indispensável para manter a mente sã e para contornar situações adversas que apareçam pelo caminho. No caso do fanatismo a mesma premissa tem que ser levada em consideração. Para ter uma vida saudável o recomendável é ser fã sem exageros. Essa é a medida correta para conseguir que esses ídolos façam parte da vida do adolescente, mas sem consumi-la por inteiro.
“Sou uma fã, mas sou controlada”, diz Marcela Mattos, 16 anos. Fã da atriz/cantora Miley Cyrus, ela é categórica ao afirmar que embora admire o trabalho da popstar não se considera uma fanática. Estudante do 2º ano do Ensino Médio, ela conta que conheceu o trabalho da cantora por meio de amigas, e que as músicas com temas comuns na adolescência a transformaram em sua cantora predileta.
Para a adolescente, as músicas ajudem na construção da autoconfiança, mas é também preciso ficar atento e enxergar os maus exemplos desses artistas. “É legal ter um ídolo, mas não é legal tentar imitar o ídolo, temos que ter nossa própria identidade, e personalidade”, comenta.
Embora não dispense uma revista com sua cantora preferida na capa, a estudante também é moderada no aspecto do consumismo. “Quando sai uma revista ou outra dela, lógico que eu compro, mas só se estiver ao meu alcance, nada de ficar implorando e chorando por não ter a revista”, diz.
Quando assunto é tecnologia, Marcela, diz que o twitter ajuda a demonstrar que os ídolos são pessoas comuns e que realmente se importam com o carinho das fãs. Ela revela que já conseguiu algumas respostas, do galã americano Leonardo DiCaprio e da própria Miley Cyrus, por meio dessa ferramenta. Também confessa que só ingressou no microblog para poder acompanhar os artistas preferidos.
Confira em página exclusiva (alto da página), quadro sobre as principais tragédias no mundo da música, realizada por fãs.
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