Por Willian Guerra
Conviver com pessoas até então desconhecidas, em uma cidade de onde se conhece pouca coisa, sem o almoço de domingo na casa da avó, as conversas com o pai e os cuidados da mãe. Mesmo assim, a vida em república se torna uma das opções mais utilizadas pelos jovens que buscam, longe de suas casas, um futuro profissional. O que parece bagunça, aventura ou até loucura para uns, é incentivado por psicólogos que afirmam: a independência auxilia no amadurecimento
Não há um padrão de ideais entre os jovens, mesmo que sejam da mesma classe social. Há os que já estão formados e possuem um bom emprego, outros perseguem com empenho e firmeza um projeto de vida, enquanto muitos não sabem o que querem. Para os inseguros, que temem o futuro e se ligam em demasiado à casa e ao aconchego dos pais, a decisão de morar sozinho em uma república pode ser uma aula eficaz de independência construtiva, um caminho suave para a vida adulta.
Não se trata apenas de aprender a cozinhar, lavar e passar, e a conviver com as pessoas que eles nunca viram. Trata-se de aprender a ser livre sem esbarrar nos direitos dos outros, o que é uma experiência positiva para a vida pessoal e profissional, segundo educadores, psicólogos e até alguns moradores ou egressos de repúblicas.
Letícia Schumann, estudante de jornalismo, saiu de Itajubá, no interior de Minas Gerais, para a cidade litorânea de Santos. Lá ela vivia com os pais e cursava a faculdade de direito em um município vizinho. Depois de perceber que a legislação não era bem a sua área, Letícia resolveu prestar vestibular em duas faculdades do Estado de São Paulo. A PUC e a Unisanta foram as opções da mineira. Por falta de vagas na PUC e por conhecer algumas amigas que já moravam no litoral, a jovem optou por fazer jornalismo em Santos.
Hoje, Letícia mora com três colegas em um apartamento no prédio Itajaí, localizado em frente à faculdade. Ela ressalta que a liberdade de fazer o que quiser é barrada na responsabilidade de ter que fazer a sua comida, ter que limpar as suas coisas e ter que se “automedicar” quando está doente. “Não tem mamãe nem papai para cuidar de você. É uma vida totalmente diferente da que eu tinha lá em Itajubá.”, diz a estudante.
A república é nada mais do que uma casa/apartamento onde jovens de diferentes lugares moram para que possam fazer a faculdade que tanto desejam. As universidades que possuem algum curso que se destaca dos outros, tendem a chamar mais atenção para estas repúblicas. Em residências ao redor ou próximas às universidades, podemos achar com facilidade três, quatro ou cinco repúblicas para jovens que migram de cidades distantes.
Os preços podem variar conforme a localização e a quantidade de quartos. Em repúblicas que ficam próximas à faculdade e com quartos individuais, os valores chegam aos R$ 600,00 por mês. Este valor é muitas vezes dividido entre quatro, cinco ou até seis pessoas. Nas próprias faculdades há alguns folderes que possuem telefone de contato para essas moradias.
A psicóloga, pedagoga e pós-graduada em neuropsicologia, Sandra Bezerra, apoia a ideia de que a pessoa viva em uma república. “É benéfico. Viver em república é vantajoso desde que o jovem tenha uma personalidade estruturada pela família”, diz Sandra. Para ela, o adolescente só vai conseguir conviver com os demais se ele souber viver em grupo e aprender a compartilhar qualquer coisa presente dentro de sua nova moradia.
“O adolescente não preparado só vai bater nas barreiras que o mundo impõe.”, Sandra alerta que o jovem deve aprender a ceder algumas coisas para que o ambiente em que vive seja confortável, pois, em sua cabeça, ele tem a “liberdade” que não tinha em casa. Com isso acaba passando de alguns limites dentro da república, o que gera conflitos com seus companheiros.
Gustavo Apolinário Domingues, 21 anos, mora em uma república há dois anos e meio. Ele conta que já viu pessoas chegarem e saírem da república onde vive. “Com certeza o maior problema é conviver com pessoas de todos os estilos. Você pode morar junto com um punk e um pagodeiro.”, disse o estudante, que está no seu penúltimo ano de Ciências da Computação na Unisantos.
O jovem conta que já viu muitas brigas e presenciou muitas cenas de risos no prédio. Era um que chegava bêbado em “casa” e não conseguia subir as escadas, outro que explodiu a lasanha quando foi colocá-la no micro-ondas. “No fim das contas é bom. A gente acaba aprendendo muitas coisas com pessoas de outros lugares e eles aprendem com a gente.”, completa Domingues.
A psicóloga Sandra afirma que o adolescente que mora em república pode ter melhor rendimento profissional do que o outro que reside com os pais. A experiência de morar e conviver mais cedo com pessoas “desconhecidas”’ geralmente contribui para que jovem tenha maior facilidade de se relacionar melhor futuramente no mercado de trabalho.
É o que a estudante de psicologia, Camila Savassa Araújo, de 22 anos, conta. Ela migrou do interior de São Paulo para Santos com ideia de fazer faculdade de Artes Visuais na Unisanta. Morou em uma república também formada só por mulheres e depois de um semestre decepcionante largou a faculdade, conseguiu um emprego e começou a juntar dinheiro para fazer outra faculdade, a de Psicologia.
Hoje, Camila mora sozinha em um apartamento em São Vicente. Ela se sustenta com seu emprego, e continua sua faculdade. “Poderia ter ficado na república. Pagava menos, tinha mais companhia, mas aprendi muita coisa lá que está servindo para o convívio no meu emprego e na minha futura área de trabalho. Me vejo mais responsável e preparada para tudo.”, conta.
“Viver sozinho faz bem”, explica a psicóloga. Sandra diz que é importante para a vida profissional, o período em que o jovem começa a ter uma visão de mundo diferente e não tem mais seus pais para lhe dar o suporte que foi dado durante toda a sua vida Segundo ela, este amadurecimento desperta para a “vida adulta”.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
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